domingo, 16 de dezembro de 2012

Joaquim dos Santos na historiografia musical

Foi com alguma surpresa e bastante agrado que descobri uma das poucas referências ao compositor Joaquim Gonçalves dos Santos [J. S.] que se possam encontrar em publicações portuguesas de conteúdo historiográfico sobre música portuguesa e que, mesmo em síntese, não deixa de ter rigor científico e aspectos essenciais.

Na introdução ao livro "Dez compositores portugueses", Manuel Pedro Ferreira traça "Trajectórias da música em Portugal no século XX", num "Esforço histórico preliminar". A referência aparece na página 47, num capítulo cujo tema é "A diferenciação das poéticas musicais (c. 1970-1980)" e onde o compositor cabeceirense é referido como «discípulo de Manuel Faria».

Para nós é claro que Joaquim dos Santos é o discípulo dilecto de Manuel Faira [M. F.], pela muito forte e duradoira relação pessoal, pela ajuda na prossecução dos seus estudos em Roma na década de 60 por parte de seu Mestre e por J. S. ter, entre outros exemplos, escrito a orquestração da Missa de Nossa Senhora de Fátima (cujo original é para coro e órgão); ter completado a Missa em Honra de Nossa Senhora do Sameiro (cujo original é para uma e duas vozes e órgão) apresentada assim para coro a 4 vozes mistas e orquestra de sopros e ter completado 12 Antífonas e salmos. Um trabalho perfeitamente natural e consentâneo com o conhecimento mútuo que detinham sobre as técnicas de composição que os levou a estarem juntos, por exemplo, na ideia e consecução da fundação da Nova Revista de Música Sacra, onde alguns desses salmos foram publicados.

Esta referência a M. F. é extremamente importante na vida e obra de J. S. já que, reportando-nos ainda à mesma referência bibliográfica de Manuel Pedro Ferreira,  M. F. será inserido na dinâmica das "inovações portuenses", através de "alguma modernidade harmónica no universo da música religiosa" e de uma "mais radical, mas também mais passageira" experimentação atonal - em comparação com Fernando Lopes-Graça (obra Canto de Amor e de Morte) e Joly Braga Santos (obra Sinfonietta), uma dinâmica surgida "na sequência de estudos com Goffredo Petrassi" (em que a obra Nove peças para orquestra é disso exemplo). Um compositor cuja obra foi muito apreciada por parte de J. S., do qual terá várias obras no seu espólio e apresentará traços comuns em algums das suas obras, como é disso exemplo o aspecto místico da 1ª peça In principio erat Verbum  (No princípio era o Verbo) de Prologus - 6 Impressões musicais do Evangelho de S. João ou a peça a ele dedicada e baseada no tema popular italiano “Fiore de Lino” que se encontra no livro “Canti della campagna romana” de G. Nataletti e G. Petrassi.

Outra caracterização feita a J. S. por parte Manuel Pedro Ferreira é a de um compositor dos que, no norte do País "afirmaram a sua personalidade criativa na década de 70", sendo um compositor "que se aplicou nos domínios da música litúrgica e da música instrumental de câmara".

É verdade que é a partir da década de 70 que podemos encontrar J. S. a compôr de forma mais sistemática e já com um estilo próprio, depois dos ensinamentos que obteve em Roma entre 1963 e 1969 no Pontifício Instituto de Música Sacra, numa altura em que já tinha apresentado algumas obras de música de câmara e para várias formações corais, tendência que se irá manter e aprofundar na década de 70 aquando das solicitações enquanto professor em diversas escolas e por dever de ofício na sua vida paroquial, sendo esta uma forma de desenvolver e aprimorar as suas técnicas e o seu ambiente sonoro.

2 comentários:

  1. Já consegui ouvir alguma coisa da sua música, e merece realmente o elogio que lhe é feito. Obrigado pela partilha, sinto-me menos ignorante agora, e logo sobre alguém oriundo de uma terra que eu conheço tão bem..

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  2. Nós é que agradecemos o facto de gostar da música deste grande compositor português nosso conterrâneo.

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