domingo, 30 de dezembro de 2012

Joaquim dos Santos na historiografia musical IIb

  •  O Pior é o último parágrafo: 
"A sua música, onde confluem vários estilos, no geral de linguagem moderadamente moderna, teve uma divulgação sobretudo regional."

Esta frase não quer dizer rigorosamente nada, quer sobre a forma, o estilo, a inserção numa determinada escola, tendência estética ou época histórica., senão vejamos:
"(...) onde confluem vários estilos"
 - Quais?

Sendo Joaquim dos Santos [J. S.] o discípulo dilecto de Manuel Faria [M. F.] e tendo aquele seguido os passos deste nos estudos em Roma, veio assim a tomar conhecimento de práticas e ideias musicais que influenciaram o percurso do seu mestre. Exemplo disso é a audição e o estudo de obras fundamentais e caraterizadoras da renovação da escola italiana pós-verismo, como o são as de Gofredo Petrassi, Luigi Dellapiccola, Alfredo Casella e Gian Francesco Malipiero.
Mas se da Itália teve estas influências, outras vieram do contacto que adveio da sua passagem pela Alemanha e pelo estudo da música de Franck Martin depois do Maestro Ernest Ansermet lhe tecer elogiosas críticas.
Noutra perspectiva e de acordo com João Duque "Possivelmente por ter crescido numa família em que o som da flauta acompanhava o dia-a-dia; talvez por essa infância ter decorrido num dos recantos mais bucólicos do Minho; talvez também pelas influências musicais de outros compositores (com saliência para Stravinsky), é especialmente exemplar o seu tratamento dos sopros. Por um lado, salienta-se a mestria com que introduz e combina os metais, que demonstra uma convivência de décadas, através da prática de direcção de bandas; por outro lado, sobressai sobretudo a beleza bucólica e simultaneamente arrojada com que joga com as madeiras, em continuação pessoal e inovadora de passagens típicas de Stravinsky. Ritmicamente, para além do compositor russo, é clara a influência de Britten, que também deixou a sua marca em certa predilecção pela percussão."
E mais em próximos artigos será escrito e dissertado.
Será que por aqueles compositores italianos referidos terem sido influenciados mas não terem sido submissos de forma dogmática e histriónica na vanguarda advinda da Segunda Escola de Viena (Schönberg, Berg, Webern), serão, assim, designados por "moderadamente modernos" quando, na verdade, temos Casella como responsável pela secção italiana dessa mesma Sociedade em 1923, juntamente com D'Annunzio e Malipiero até à 2ª Guerra Mundial; temos Dallapicolla a retomar o fulgor da Sociedade Internacional da Música Contemporânea em Itália no pós-Guerra e temos Petrassi a presidente mundial desta associação entre 1954-56, será isto coerente? Sendo, aliás, esta associação a que deu a conhecer por toda a Europa o que de mais recente, inovador e mais influente se fazia e pensava na música daquela época.

Será a sua "música (...) no geral linguagem moderadamente moderna" por ter tido estas influências e por nunca ter escrito e apresentado música electrónica na senda de Stockhausen?
Por certo por não ter tido a preocupação de fazer algo só para estar na moda dos "compositores da vanguarda, naquilo que João de Freitas Branco (1964) referia como a «pathetic fallacy» do compositor-herói que muitas vezes parece ser ainda a tónica dominante (que expressão tão infeliz, mas enfim tão usada) na musicologia portuguesa e/ou internacional.
"Moderadamente moderna" porque se inseriu na «política do espírito» preconizada por António Ferro no Secretariado de Propaganda Nacional (posteriormente Secretariado Nacional de Informação)? Nada mais falso, já que mesmo fazendo parte do clero, da hierarquia da Igreja Católica, em nada participava no conluio, na aceitação ou neutralidade (dependendo do ponto de vista) que existiu entre Igreja e Estado durante o regime de «Estado Novo». J. S. esteve sempre, por decisão própria, fora dessas preocupações e desses temas, sem interesse sequer para pensar nisso.

"A sua música (...) teve uma divulgação sobretudo regional."

Esta ideia apresenta-nos um conhecimento desactualizado da quantidade de produção e de apresentação da música de J. S. a nível nacional e internacional.
Para o tempo mais recente, Manuel Pedro Ferreira - o autor desta entrada sobre o compositor celoricense - refere que "1995 em diante, [J. S.] compôs também partituras para orquestra."
É preciso referir que a partir de meados da década de 90 J. S. tem encomendas para as comemorações henriquinas de 1994 - no 6º Centenário do nascimento do Infante D. Henrique - e para a Expo 98, sem contar com as obras compostas no 1º decénio dos anos 2000.
A profusão de obras encomendadas por particulares, músicos interessados em interpretar as suas obras, é muito grande. As gravações em Roma também, tal como o início da apresentação em primeira audição de várias obras mais antigas tanto em Itália como na Alemanha, em Espanha e em Portugal.
Se houve espaço e tempo para sobre os primeiros anos de 2000 os elementos desta enciclopédia dissertarem, e bem, sobre acontecimentos cimeiros da nossa vida musical a todos os níveis, então haveria que tentar actualizar ao máximo as informações respeitantes aos mais diversos instrumentistas, compositores e grupos musicais, até porque Manuel Pedro Ferreira é a mesma pessoa que apresenta outros dados aqui, para nosso espanto.

Sem comentários:

Enviar um comentário